Uma das atribuições legais do síndico é conservar o patrimônio e a segurança da edificação e, consequentemente, de todos que a habitam. Isso envolve, entre outras coisas, planejar as manutenções e prevenir e tratar patologias. A tarefa não é fácil, mas a comparação com situações mais cotidianas é bem-vinda nas assembleias, palestras e cursos que tenho participado e ajuda síndicos na conscientização da importância do planejamento e do investimento.
Por exemplo, por mais que não exista norma que determine a periodicidade, lavamos nosso carro quando a sujeira nos incomoda. Atingida a quilometragem, trocamos o óleo sabendo que "fundir" o motor custa mais. Em condomínios, o universo muitas vezes entra em um "metaverso" e não se aprova reformas até mesmo emergenciais.
Quando mudei para onde moro, meu condomínio apresentava queda de pastilhas e mais de uma década sem manutenção. O primeiro passo foi fazer uma inspeção predial completa, onde foram levantadas outras patologias que ninguém, ou quase ninguém, imaginava. Embora o planejamento da obra tenha se embasado com Laudo, Memoriais Descritivo e Quantitativo e um complexo Plano de Obra, na assembleia de aprovação da contratação houve gritos, calúnias e muitos "assim eu não vou conseguir pagar". Mesmo assim, se aprovou rateio por apartamento de R$ 2.700 parcelados em trinta meses sem juros.
Antes mesmo do final da obra, o síndico não foi reeleito por "o condomínio estar muito caro". O rateio ainda não terminou, mas a obra sim, e a valorização supera dez vezes o valor investido. Isso sem contar segurança, conforto etc. Creio que não cabe o julgamento do valor para cada condômino, mas certamente mais da metade não dirige o mesmo carro de 2019. Os que dirigem, não lubrificam os motores com o mesmo óleo, não andam sobre os mesmos pneus.
Alguns condomínios procuram a inspeção predial apenas quando há aparente risco de perda de segurança, ou seja, calibram os pneus apenas quando acham que ele está furado. Outros apenas buscam a garantia junto à construtora, quando vai acabar o prazo dos cinco anos.
Esses abastecem o carro apenas quando está há tempo na reserva. Por fim, há condomínios que querem mensurar suas necessidades mais urgentes para ver quais obras precisam e podem fazer a médio, curto e longo prazo. Estes sempre andam com a família em um carro revisado, calibrado, abastecido e limpo.
Mário Filippe de Souza, graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina. Diretor Executivo da Econd Engenharia para
Condomínios.