Síndicos gaúchos relatam as dificuldades em condomínios com as chuvas no Rio Grande do Sul

Profissionais têm sedes atingidas e realizam a gestão de condomínios afetados pela pior enchente da história do Rio Grande do Sul
Profissionais lidam com condomínios inundados e as próprias moradias tomadas pelas águas em uma catástrofe histórica. Síndicos de SC auxiliam na reconstrução  - Foto SECOM Gov RS / Divulgação Profissionais lidam com condomínios inundados e as próprias moradias tomadas pelas águas em uma catástrofe histórica. Síndicos de SC auxiliam na reconstrução - Foto SECOM Gov RS / Divulgação

As chuvas no Rio Grande do Sul deixaram um rastro de morte e destruição em diversas cidades.

Condomínios inteiros ficaram submersos pela água, outros estão submersos parcialmente e enfrentarão problemas para a retomada quando a água baixar. Os síndicos estão na linha de frente para auxiliar moradores, mas também sofrem com dramas pessoais pela perda de moradia.

O Guaíba ultrapassou a marca histórica de 5,33 metros de elevação, o que significa risco de inundação severa. Dados do governo gaúcho mostram que foram afetadas 450 cidades das 497 que o Estado possui. Ou seja, quase 90% de todo o estado sofreu danos causados pelas chuvas.

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Foto aérea mostra condomínios alagados por conta do aumento do nível do Guaíba na região metropolitana de Porto Alegre / Foto: Maurício Tonetto / Palácio Piratini

Algumas regiões do Rio Grande do Sul possuem histórico de enchentes, mas a proporção da vivida neste mês de maio supera as anteriores. Condomínios residenciais e comerciais foram ‘lavados de lama’ pelo grande volume de água. A síndica profissional Sabrina Krug fez um relato detalhado sobre o desastre.

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Síndica Sabrina Krug relata as dificuldades encontradas nas salas comerciais devastadas pelas águas

“Somos de Montenegro, local que é acostumado a ter enchentes, mas nunca numa proporção como essa. Tem prédios que a gente atende em que há mais de 30 anos a água nunca havia chegado nem até o primeiro degrau da calçada, mas agora entrou a mais de 1,5 metro de altura. Principalmente as salas comerciais no centro da cidade perderam tudo. Um escritório de contabilidade teve a perda de toda a documentação dos clientes, computadores, televisões que estavam fixadas, tudo foi por água abaixo, literalmente. Além disso, tem uma lama densa e grossa que estraga tudo”, diz Sabrina.

O síndico Alex Sandro D’Avila, da ProCond, conta o que ele próprio tem vivido para poder seguir trabalhando. Morador de Canoas, a casa onde mora está com água até o teto e o carro da empresa está submerso na garagem.

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Síndico Alex Sandro D'Ávila teve a casa submersa em Canoas e se manteve atendendo os condomínios

“Levamos em média 4 horas para fazer um percurso de 20 minutos entre Canoas e Gravataí, até os condomínios que atendo. Até as partes alagadiças da cidade a gente não consegue chegar, então nós temos clientes isolados. Fizemos a evacuação de prédios, condomínios nossos totalmente evacuados, trancados com cadeado, pois a falta de segurança está grande nessas áreas alagadiças, por mais que Brigada Militar esteja trabalhando. Está bem complicado, eu sou da cidade de Canoas e a minha casa hoje está embaixo d'água”, relata.

Andreia dos Reis Vendruscolo, advogada e CEO da Casa dos Síndicos, do Rio Grande do Sul, tem dificuldade com a equipe de trabalho, já que alguns tiveram a casa devastada pela água. Além disso, a instabilidade de luz, internet e locomoção tem deixado o trabalho ainda mais complicado.

"É um momento muito desafiador, até mais do que o da pandemia, porque estávamos dentro das nossas casas. Nós temos sete pessoas da equipe que tiveram perda total das casas, isso reduziu o número de quem pode fazer home office e também a internet oscila demais. Muitas vezes estamos numa rotina de retorno bancária, remessa e registro de boletos e de repente falta luz e perdemos tudo. Nós estamos nos empenhando ao máximo".

Uma das tantas dificuldades que os síndicos enfrentam nessa situação dramática é a contratação de alguns serviços, seja pela alta demanda ou pela dificuldade de transporte. Airton Roxo, CEO do Clic Síndico, relata uma situação vivida nos últimos dias.

“Uma empresa de brinquedos aquáticos do litoral ofereceu gratuitamente 50 mil litros de água a cada 6 horas, mas deveríamos buscar. Pedimos para que os síndicos manifestassem interesse já informando a quantidade de litros de água e os pedidos chegaram aos montes”, disse.

 

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 Dificuldades diárias

Alex Sandro D’Ávila ainda fez um apontamento sobre as principais dificuldades que tem encontrado diante da catástrofe que ocorreu no Rio Grande do Sul.

“A primeira delas é a falta de água na cidade, em alguns pontos. O Departamento Municipal de Águas (Demae) está trabalhando para botar as casas de bomba em funcionamento o mais breve possível. Mas como os equipamentos são sucateados ao longo dos anos e não foram feitas as devidas manutenções, nós temos problemas. Segundo ponto é que nós temos boa parte da cidade ainda sem luz nas partes alagadas, então para condomínios principalmente que têm caixa de água abastecida com o sistema de bombas, não tem como abastecer, e isso gera um outro problema aqui, que é a ganância das empresas que vendem água potável. Um caminhão-pipa está muito caro, quadruplicaram ou quintuplicaram os valores de água vendida em caminhão. Um de 10 mil litros custa R$ 15 mil.

Saúde mental em meio à calamidade

Síndica profissional e diretora social da Associação dos Síndicos do Rio Grande do Sul (Assosíndicos RS), Silvana Astarita faz um apontamento sobre a capacidade de doação do gestor em um momento de extrema dificuldade. Além disso, a questão mental também tem afetado os profissionais em um ambiente sem precedentes na região.

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Silvana Astarita, diretora social da Assosíndicos-RS, aponta cuidados com a saúde mental dos profissionais

“Estou com o coração carregado de cansaço e frustração. A calamidade que assola o Rio Grande do Sul nos colocou à prova, exigindo uma força sobre-humana que, confesso, em alguns momentos começa a me faltar. Como síndica, tenho dedicado cada minuto de meus dias a garantir o bem-estar e a segurança dos moradores, buscando soluções em meio à escassez de recursos e à incerteza que paira no ar. As noites são curtas, tristes e carregadas de preocupações e decisões difíceis. A exaustão física e emocional toma conta, e por vezes a vontade de desistir me invade. Mas, ao olhar para o rosto de alguns moradores, vejo a esperança e a força que me impedem de sucumbir. Testemunhei atos de gentileza, solidariedade e união entre os moradores que me inspiram e me dão a força para continuar lutando”, conta.

Sabrina Krug também relata a experiência que tem vivido ao lidar com pessoas que estão fragilizadas também pelas perdas. É uma equação difícil de resolver, pois o momento é de extrema complexidade.

“A pressão acaba vindo de todas as partes, o morador que foi atingido pelo alagamento que precisa de todo amparo possível faz com que muitas vezes nós síndicos atuemos até como assistentes sociais, mas por outro lado tem os moradores dos prédios que não foram alagados eque também demandam atenção, e nessa fase não tem como se dizer que o problema de um é mais ou menos complexo do que o do outro. Estamos na linha de frente todos os dias, ajudando na limpeza das casas, sendo voluntários em abrigos, apoiando as campanhas para arrecadar e mesmo assim a sensação é de ser completamente impotente”, detalha.

Ao mesmo tempo que há esperança, Silvana Astarita lembra de uma das dificuldades que o gestor de condomínio encontra no dia a dia: o bom senso.

“No entanto, a falta de empatia e o imediatismo de alguns me entristecem profundamente. A cobrança incessante por soluções mágicas, a falta de compreensão e o desrespeito com o meu trabalho me fazem questionar se vale a pena tanto esforço. É importante que reconheçamos que a situação ainda é crítica. A falta de água potável, a escassez de alimentos e a instabilidade social nos colocam em uma posição vulnerável. Precisamos manter a calma, agir com responsabilidade e seguir as orientações das autoridades. É fundamental que nos unamos ainda mais, compartilhando recursos, oferecendo ajuda aos mais necessitados e buscando soluções conjuntas para os problemas que enfrentamos”.

Eventos climáticos

O engenheiro Albélio Dias, consultor em ESG e que atua em edifícios comerciais com certificações ambientais, publicou um artigo recentemente em que cita a mudança no clima como um fator que precisa ser levado em consideração pela sociedade. Ele aponta que é necessário buscar diminuir o impacto de casos como o do Rio Grande do Sul, que é de chuva extrema.

“As mudanças climáticas têm provocado um aumento significativo na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como fortes chuvas, levando a inundações que causam danos sociais e econômicos às cidades ao redor do mundo. Para enfrentar essa realidade desafiadora e mitigar seus impactos adversos, as cidades afetadas pelo grande volume de chuvas devem adotar uma abordagem holística e integrada, alinhada com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS-11) das Nações Unidas, que visa tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis’, detalha.

O que Albélio Dias cita está sendo vivido pelos gaúchos. A síndica profissional Sabrina Krug exemplifica em números a situação vivida em um dos condomínios localizados na Grande Porto Alegre.

“Tem um condomínio residencial com 600 unidades, mas 120 unidades são apartamentos térreos que ficaram totalmente embaixo da água. A água chegou a 1,80 metro nesses apartamentos, então as pessoas perderam tudo. Essa inundação foi numa região em que não havia nenhum tipo de previsão de enchente, dentro dos cronogramas e marcações que a Defesa Civil tinha”.

O engenheiro ainda aponta para uma questão, se levada para o universo condominial, que é a necessidade de investimento em ações sustentáveis e preventivas.

“Uma resposta eficaz a esses desafios exige uma combinação de medidas preventivas, adaptativas e de gestão de riscos. Primeiramente, é crucial investir em infraestrutura resiliente para drenagem pluvial, incluindo sistemas de escoamento de água adequados, reservatórios de água e sistemas de gestão de enchentes. Isso pode envolver a construção de canais de drenagem, bacias de retenção e reservatórios subterrâneos para armazenar o excesso de água durante eventos de chuva intensa, reduzindo assim o risco de inundações”.

Apoio dos síndicos de SC 

O síndico Leandro Pandolfo Bonapaz, do Residencial Bosque das Estações, de Palhoça, é um dos profissionais que auxiliam na recepção e distribuição de mantimentos, roupas, calçados e águas para os gaúchos. No local há parentes e amigos de pessoas que sofrem com as enchentes e houve uma grande mobilização dos moradores.

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Imagem enviada pelo síndico Leandro Bonapaz, com doações realizadas para as vítimas no Rio Grande do Sul

"Começamos a juntar todas as doações e organizar a logística para a entrega diretamente para as pessoas. Fiquei muito emocionado pela mobilização dos moradores pelo grande volume de donativos que conseguimos arrecadar", conta.

Em diversos condomínios da Grande Florianópolis e do Estado houve arrecadação e distribuição de mantimentos. O síndico Marcelo Bavaresco, de Criciúma, foi até Canoas (RS) ajudar na distribuição e entrega de roupas arrecadadas nos condomínios em que atua.

 

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