Sindicatura é habilidade ou aprendizado?

Sindicatura é habilidade ou aprendizado?

Especialistas explicam que capacitação, somada à experiência e inteligência emocional, é essencial para formar um bom síndico

Responsável pela administração do condomínio, o síndico tem seu dia comemorado em 30 de novembro. A função passou por uma intensa modificação nos últimos anos, principalmente pela alta demanda. Dados do último Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estimam que o país tem 6.157.162 apartamentos e 1.018.494 casas de vila ou em condomínios.

O crescimento do mercado imobiliário impulsionou a valorização da sindicatura por meio de salários bem atrativos e o cargo, que antes era difícil de ser ocupado - já que poucos moradores queriam ser síndicos -, passou a ser disputado. Muitos buscam qualificações para ter uma atuação alinhada com as necessidades dos condomínios. Outras, porém, apostam na habilidade e na experiência do dia a dia.

Especialista em Recursos Humanos e referência nacional em cursos de formação de síndico profissional, o diretor da Gábor RH, Ricardo Karpat, formado em Administração de Empresas pela FAAP e pós-graduado em Marketing pela Universidade Mackenzie, usou o futebol como exemplo para o debate.

Karpat
Ricardo Karpat: na função de síndico é muito fácil criar um propósito, porque você está representando uma coletividade

"Eu considero que todas as funções que a gente exerce de forma profissional têm uma parte de aptidão, talento e desenvolvimento, mas também um pouco de aprendizado. Um jogador de futebol, por exemplo, o Neymar, tem um talento nato para a profissão que exerce. Com treinamento ele desenvolve mais, mas sem treinamento ele desenvolve menos. Se eu treinar futebol oito horas por dia, talvez eu vire um jogador profissional, mas nunca vou virar um Neymar", destaca Karpat.

Responsabilidade do cargo

Especialista em planejamento estratégico de mercado, a publicitária Angélica Arbex, que há mais de 24 anos convive com a realidade dos condomínios paulistanos e gerencia o setor de relacionamento com clientes e comunicação da Lello Condomínios, considera que o síndico, seja ele profissional ou morador, deve estar ciente das atribuições que o cargo exige.

“A disputa se tornou mais acirrada de acordo com o maior entendimento da abrangência e importância do papel do síndico. Ele não é apenas um representante legal do prédio - e isso não é pouco. Ele é gestor de um ativo muito muito importante que é o imóvel, o patrimônio dos condôminos. A partir das decisões dele esse patrimônio se valoriza ou desvaloriza no tempo. O síndico é também uma grande liderança na formação de comunidades harmônicas, mudando para melhor a vida das pessoas”, explica.

Comentarista do Jornal SP1 da TV Globo e colunista sobre vida em condomínio na Folha de S. Paulo, Marcio Rachkorsky, que tem mais de 20 anos de atuação como síndico, destaca a importância de se aperfeiçoar com cursos, mas ressalta a necessidade de estar por dentro dos processos que a sindicatura exige.

Marcio Rachkorsky 16
Marcio Rachkorsky: mix de conhecimentos técnicos e inteligência emocional são habilidades necessárias para exercer a função

"Muitas pessoas migraram para essa área por necessidade, outras por se sentirem hábeis e depois se deram mal. Fazer curso é importante, mas não é o mais importante. O síndico aprende com o tempo e com a prática. Além de fazer curso é importante ter uma vivência prática, atuar como gerente predial, como preposto de um síndico que tenha uma estrutura maior, fazer imersões, mentorias, participar de eventos, simpósios, palestras e de grupos para ter experiência de outros síndicos”, explica.

Para o especialista tem muita gente ganhando dinheiro e vendendo a esperança de que é muito fácil ser síndico, quando na verdade envolve uma infinidade de responsabilidade legal. “Assim como pode ser uma grande carreira, também pode ser um grande abacaxi se não fizer direito. Se aprende com o tempo e com a prática", afirma Rachkorsky.

Síndica profissional e instrutora de curso de formação de síndicos em Balneário Camboriú, Letícia Duarte, que é formada em gestão de RH e técnica em administração, reconhece que alguns novos postulantes ao cargo o enxergam como modelo de negócios para ter uma renda extra.

"Eu vejo que despertou nas pessoas a visão de que a sindicatura pode ser uma oportunidade de desenvolver uma atividade paralela, conseguindo equilibrar com outras demandas pessoais e ter uma segunda renda. É possível ser bem remunerado no mercado e acredito que é por isso que entendo haver essa grande procura, mas eu sempre digo que ser síndico é uma missão, tem que ter um propósito e não adianta iniciar na carreira de síndico por dinheiro. O ideal é encontrar um propósito, porque não é uma carreira fácil", justifica Letícia.

Busca por síndicos profissionais

O crescimento do mercado imobiliário possibilitou também o surgimento da sindicatura profissional. A situação levou os condomínios a buscarem soluções próprias, elevando o investimento em administração adequada e, consequentemente, com uma remuneração aos gestores muitas vezes acima da média de outras profissões.

Marcio Rachkorsky elenca três fatores que elevaram a concorrência para a função de síndico: zelo ao patrimônio, vaidade e remuneração.

"O mercado geral de condomínios passou por uma transformação grande e o cargo de síndico virou concorrido, mas por três motivos. O primeiro deles é porque tem muita gente querendo cuidar do lugar em que mora. Segundo porque há a síndrome de pequeno poder, algo que envolve muita vaidade, muito ego, o que é péssimo. E terceiro porque existe a possibilidade de ter à disposição um bom síndico profissional, o que gera uma concorrência com os síndicos moradores. De modo geral, essa concorrência é boa", diz.

O especialista destaca ainda que acabou aquela história de o síndico só cumprir os dois anos e passar para o próximo. Hoje tem um propósito, um comprometimento e metas. “O compromisso é com o resultado, tanto que quando o síndico vai tentar a reeleição, eles mostram o resultados e os avanços obtidos e apresentam um plano de metas para o próximo biênio, tal qual se faz em grandes companhias”, explica Márcio.

Práticas para ser um bom síndico

Angel Arbex
Angélica Arbex: A disputa se tornou mais acirrada de acordo com o maior entendimento da importância do papel do síndico

Angélica acredita que os aprendizados, somados à experiência, trarão as habilidades necessárias para a formação do síndico. “Os principais pilares para uma boa sindicatura envolvem conhecimento da legislação, gestão financeira e administrativa, ter um olhar para a sustentabilidade dos condomínios, boa comunicação e relacionamento com seus funcionários e moradores. Hoje em dia, é necessário também estar atualizado com a transformação digital nos condomínios, que já faz parte do dia a dia dos moradores ", destaca Arbex.

No entendimento de Angélica, para se tornar um bom profissional na gestão condominial é preciso dedicação, aperfeiçoamento através de cursos, mas também vivenciar na prática as situações cotidianas.

"Apesar do desafio, creio que com dedicação, todos que buscam podem ser bons síndicos. O bem-estar daquela comunidade passa pela boa gestão do síndico. A sindicatura é um aprendizado diário. Claro que o curso é importante para o conhecimento técnico, mas estar ali no cotidiano do condomínio é tão importante quanto. Todas as habilidades podem ser adquiridas com experiência do dia a dia e estudo", explica Arbex.

O responsável por administrar o condomínio precisa estar atualizado. Em muitas situações, o trabalho a ser realizado se assemelha ao feito em uma empresa. Um bom desempenho requer algumas competências e também habilidades específicas. O síndico é a pessoa que precisa estar sempre atento à coletividade condominial.

"Eu acredito que qualquer pessoa para ser um bom profissional precisa de um propósito e, se o objetivo for ganhar o dinheiro, ele muito dificilmente vai ser um bom profissional. Dentro da função de um síndico é muito fácil você criar um propósito, porque você está representando uma coletividade e pode exercer, de maneira micro, o que os nossos políticos na maioria das vezes não conseguem representar de maneira macro. Você pode mudar o mundo daquela coletividade, mudar o mundo daquelas pessoas, principalmente nos quesitos segurança, conforto, valorização patrimonial, além de conscientização e sustentabilidade", aponta Ricardo Karpat.

Habilidade multidisciplinar

Marcio Rachkorsky, por outro lado, acredita que nem todas as pessoas conseguem exercer a sindicatura pelo que considera ser a falta de inteligência emocional para lidar com os problemas recorrentes que surgem durante a gestão.

"Pouquíssimas pessoas conseguem ser bons síndicos. O síndico bom requer um mix de habilidades, algo multidisciplinar. Muitos não conseguem ser cordiais, pacientes, tolerantes ou ter espírito de grupo. Eu não estou falando de habilidades técnicas. Claro que é bom o síndico ter um pouco de conhecimento em engenharia, jurídico, RH, contabilidade, finanças, administração, psicologia. É bom o mix de conhecimentos técnicos, mas a maioria não consegue ser um bom síndico por não ter a inteligência emocional necessária em passar por uma situação de embate, estresse ou crítica. Logo perde a paciência ou falta firmeza quando necessário. Então, essas habilidades são muito importantes para ser um bom síndico", diz o especialista.

Possuir competências interpessoais, principalmente por lidar com um espaço com inúmeras pessoas dos mais variados perfis, também é um dos pontos fundamentais. Trabalhando na formação de síndicos há 10 anos, Letícia Duarte entende que muitos fazem da função quase uma missão e, por isso, desenvolvem a sindicatura com satisfação.

Leticia Duarte
Letícia Duarte: não adianta iniciar na função de síndico por dinheiro. O ideal é encontrar um propósito, porque não é uma carreira fácil

"O síndico precisa entender o desejo daquela coletividade e conseguir visualizar quais são as falhas que existiram de outras gestões e que trouxeram insatisfações aos condôminos para que possa ajustar a rota, criar uma dinâmica para que o objetivo seja alcançado. Talvez, seja entregar mais bem-estar, comodidade e segurança e isso será conquistado engajando moradores, funcionários e prestadores de serviços. Tudo isso vai trazer um conforto e envolver a comunidade", explica Letícia.

A capacitação das pessoas pode torná-las bons síndicos, porém, a boa vontade para seguir aprendendo fará com que elas sejam acima da média e se destaquem como em qualquer outra profissão.

"Ser um bom síndico vai depender exclusivamente do desejo, da boa vontade, do interesse da pessoa de evoluir constantemente. O síndico precisa se conhecer para entender aquilo que ele já tem grande aptidão e aquilo que ele precisa aprimorar para atender o que não é tão bom e buscar capacitação", completa Leticia.

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