A figura do síndico como a do senhor aposentado não é mais tão comum nos condomínios, o perfil dos gestores condominiais está mais diversificado e é crescente a presença de jovens na função. Com vontade de fazer a diferença, modernizar e valorizar os imóveis, os mais novos não tem receio de fazer mudanças e se cercam de recursos tecnológicos na administração, como a internet, para minimizar custos e agilizar suas tarefas. Mesmo tendo suas profissões, e muitos deles, família para cuidar, eles dão conta do recado.
A primeira vez que o síndico do condomínio Córrego Grande (do bairro de mesmo nome na Capital), Guilherme Ronsoni, 27 anos, se candidatou ao cargo, ele tinha apenas 20. “Provavelmente não me escolheram porque eu era muito novo”, comenta. Mas o professor de física não desistiu. No ano seguinte tentou se eleger novamente e recebeu os votos da maioria dos condôminos. Desde então está à frente do prédio.
O que motivou Guilherme foi a insatisfação com a gestão anterior, que para ele não estava sendo eficaz. “Estudava física na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e já gerenciava um laboratório. Hoje dou aulas no SESC (Serviço Social do Comércio) à tarde e noite e pela manhã me dedico à atividade de síndico”, conta.
Guilherme trouxe inovação para a sua gestão. Aos pouco foi automatizando o prédio, como a colocação de luzes nos corredores e motobombas automáticas. Participa de cursos e palestras sobre administração condominial para aprimorar seus conhecimentos. Para seguir a risca, a legislação condominial, não abre mão de consultar a administradora quando precisa decidir uma nova obra. “Eles me orientam bastante nessa questão”, explica.
De acordo com o diretor da Neval administradora de condomínios de Itapema, Thiago Neves, os síndicos jovens têm essa característica de acercar-se de informações necessárias para a atuação por meio da administradora. Segundo Neves, eles perguntam, querem saber mais sobre as leis, questões administrativas e contábeis.
O diretor da Neval aponta que é crescente o número de jovens recém formados que optam por serem síndicos. No último ano, uma advogada foi eleita em um dos condomínios que a empresa presta serviços. “Por ter acabado de sair da faculdade, onde se faz muitos contatos, percebi que ela tinha facilidade em dialogar com os moradores e resolver as intrigas”, explana.
Encarar a necessidade de mudanças com facilidade é outra característica dos gestores mais novos, que incentivam melhorias, como a modernização das regras do condomínio. Thiago, que tem 25 anos, além de diretor da Neval, também é síndico de um condomínio horizontal em Itapema e sugeriu a alteração da convenção e regimento interno datado de 1973. “Vamos analisar tudo, mas as renovações principais serão no regimento interno, como as questões de trânsito e principalmente sobre a circulação de funcionários das unidades no condomínio, assunto que a norma não trata. Queremos determinar uso de uniformes”, exemplifica.
A familiaridade com o mundo virtual também ajuda Thiago a minimizar os gastos do condomínio e tornar alguns processos mais ágeis. “Vamos deixar de encaminhar a prestação de contas pelo correio e enviar via e-mail para baixar custos e o material chegar mais rápido até os condôminos”, conta Thiago.
Um toque jovial e feminino
Quando a síndica Dayane Cardoso, 30 anos, foi morar no condomínio Solar Ponta do Coral há um ano e oito meses, o prédio não tinha jardim, nem guarita para os vigias e até os interfones estavam estragados. Como o subsíndico saiu, ela se candidatou e começou a tomar conta da limpeza e pintura do prédio, orientando os funcionários e criou a área verde do edifício. Depois de um ano, ela conquistou o comando do prédio, fez outras melhorias e quer se candidatar para mais uma gestão.
“Era uma experiência muito nova para mim, mas resolvi encarar. Quando entrei como subsíndica, fiquei sabendo que fui a pessoa mais jovem e primeira mulher no cargo. O condomínio tem 20 anos. Fiz algumas mudanças, essas coisas modernas, como reciclagem de lixo, e o pessoal gostou”, lembra.
Dayane passou a ser síndica depois que o gestor condominial que atuava com ela se destituiu do cargo e ela teve que ficar responsável pela função até chamar nova eleição, em que foi eleita. “Nossas assembleias são muito resumidas. A mulher de hoje em dia não tem tempo de ficar duas horas em uma reunião de condomínio. Tenho dois filhos e trabalho”, diz a autônoma da área de produção de eventos e vendas. A síndica conseguiu com o apoio dos moradores e do subsíndico construir a guarita com banheiro, fazer a calçada com piso podotátil (guia para portador de deficiência visual) e consertou as bombas hidráulicas. Agora estuda instalar o sistema de monitoramento eletrônico por CFTV (Circuito Fechado de TV). Na busca por diminuir custos e aproveitar melhor o tempo, ela costuma fazer as cotações de produtos e serviços para o condomínio via internet. “Dentro do prédio é como se fosse um órgão público, precisa ter três preços e fazer pesquisa sempre. Uso internet. Se eu for para a rua demora mais e gasto muito com gasolina”, observa.
Quando a profissão ajuda na administração do prédio
Com a experiência de ter vivido sempre em condomínio, André Gustavo da Silveira, 30 anos, veio de Criciúma para Florianópolis fazer faculdade de direito e começou a se interessar na área que trata sobre direito condominial. O interesse foi tanto que optou fazer sua monografia sobre a função do síndico na administração de condomínio. Hoje é síndico de dois prédios e conselheiro de outro.
Como adquiriu um apartamento no condomínio Ilha de Bari, no bairro Saco Grande, Capital, se candidatou ao cargo e venceu em 2006, quando tinha 26 anos. Dois anos mais tarde também assumiu a função de síndico no edifício Goya, no Centro e é conselheiro do Ilha Nova, em João Paulo, onde mora sua mãe.
Para ele, administrar condomínios requer conhecimento em administração, direito e até psicologia para lidar com moradores e funcionários. “Então comecei a me encantar por essa área, achei que não era tão explorada por pessoas mais novas. Então descobri que em Florianópolis também pagavam os honorários, e tem um retorno. Somos reconhecidos”, aponta. André tem um perfil de síndico que sabe dialogar, entender os moradores, mas sabe ser exigente. “Sempre cobro dos funcionários, mas sou muito justo. Eles ganham presente no fim de ano, folgas e as férias sempre saem corretas”, acrescenta ele que aposta em investimentos com a segurança. “Quando cheguei ao Goya, o prédio não tinha um sistema de alarme eficiente, resolvi o problema e coloquei cerca elétrica. No Ilha de Bari instalei monitoramento eletrônico”, descreve.
O contador Gustavo Itamaro, 31 anos, há um ano também optou por ser síndico do condomínio Madre Paulina II, em Forquilhinhas, São José, para buscar valorizar os imóveis do prédio. “Encarei como um desafio. Nuca tinha sido síndico e achei importante ter a oportunidade de ajudar a fazer mudanças no edifício”, diz.
O prédio com 98 unidades está em obras. Após quatro assembleias, foi aprovada a construção do calçamento e drenagem da área externa. “O apartamento que eu comprei por R$ 33 mil na planta hoje eu posso vender por R$ 80”, revela. Mas critica a falta de bom censo de alguns moradores. Têm motoristas que passam com os carros sobre as caixas de água e luz e quebram as tampa. “São gastos desnecessários”, reclama.
Casado e pai de Vitor, de cinco anos, o contador aproveita o conhecimento de contador para administrar o condomínio. “Ajuda na lida com os contratos e tributos das folhas de pagamento de funcionários ou quando vamos contratar obras muito grandes e tem grande leva de orçamentos para analisar. É uma bagagem a mais”, observa ele que tem facilidade em lidar com o público. “Tanto na minha vida de contador como na de síndico, o contato com o público é muito estressante. Mas sou uma pessoa muito comunicativa e gosto de criar amizades”, confessa.