Neste mês fui impactado pela leitura do livro A Terceira Onda, de Alvin Toffler. Já havia ouvido falar da obra na época da faculdade, mas nunca tinha me interessado por ela. Porém, após ver uma postagem nas redes sociais a respeito do livro, fiz a leitura. Naturalmente, como de costume, fiz um ensaio sobre a óptica do universo condominial, ao qual compartilharei com vocês, colegas de sindicatura, nestas linhas.
Para quem não está familiarizado com a obra de Toffer, ele analisa as grandes transformações sociais em três divisões. A Primeira Onda seria a sociedade no período agrário, a Segunda Onda seria a sociedade no período industrial e, a Terceira Onda, a sociedade pós-industrial ou sociedade da informação. E é pensando sobre esse período em que vivemos que conclui que o síndico se torna um curador de experiências e mediador de culturas. Me parece que o condomínio deixa de ser apenas uma edificação para se tornar uma plataforma de vida coletiva e diversidade.
A complexidade se manifesta, então, não apenas na infraestrutura, mas no tecido simbólico da convivência. Moradores de culturas distintas, com expectativas e visões antagônicas sobre segurança, liberdade, silêncio, lazer, família e animais compartilham o mesmo espaço e posse. A tecnologia promete facilitar, mas introduz dilemas morais inéditos: se tudo é possível realizar a partir das soluções tecnológicas, quais fronteiras sociais conquistadas na Segunda Onda devem ser preservadas e ultrapassadas na Terceira Onda?
Dessa convivência forçada entre modelos mentais da Segunda Onda e aspirações da Terceira, surge o verdadeiro desafio: não é mais possível gerir um condomínio apenas com regras. É preciso interpretar valores. As normas continuam importantes, mas são insuficientes diante das novas subjetividades que emergem: moradores nômades digitais, investidores de Airbnb, comunidades pets, famílias multigeracionais, minorias que reivindicam espaço e voz.
A Terceira Onda, com sua promessa de descentralização e diversidade, traz oportunidades imensas: redes de compartilhamento, autogestão e inteligência coletiva. Mas também exige maturidade. Condôminos que desejam apenas previsibilidade e conforto estão descobrindo que a liberdade vem acompanhada de tensão. A pluralidade não é pacífica por natureza, ela exige ética, escuta e negociação constante.
Não vejo que há retorno possível à simplicidade. O condomínio de hoje é cada vez mais complexo, mais híbrido, mais contraditório, mas também mais vivo. Como disse Toffler, “os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas os que não conseguem aprender, desaprender e reaprender.”
E para nós, colegas de sindicatura, sermos esses curadores de experiências e mediadores de culturas, é preciso muita disposição e familiaridade com um universo cheio de possibilidades e diversidade sociais, culturais e tecnológicas.