Os novos eventos climáticos já são uma realidade para todos nós, e com eles surge a necessidade urgente de adaptarmo-nos a este novo contexto ambiental, que seguramente nos trará inúmeras consequências e desafios, já para nós e para as nossas próximas gerações.
Prova disso é que atualmente, já estamos enfrentando a maior tragédia climática do sul do país e seguramente uma das maiores de toda a história do país.
Mais de 90% dos municípios do estado do Rio Grande do Sul foram atingidos pela catástrofe climática que se abateu há poucas semanas naquele estado, somado às mais de 165 pessoas que perderam suas vidas em decorrência daquele sinistro. Somam-se às perdas humanas, as perdas materiais de milhares de pessoas, seus comércios, seus trabalhos, suas casas, suas moradias, condomínios e cidades inteiras castigadas e invadidas pelas águas das enchentes das chuvas das últimas semanas em todo o estado do RS.
Infelizmente as consequências de tanta devastação não se limitam às vidas que se perderam, nem tampouco às coisas materiais, mas fatalmente os reflexos emocionais, psicológicos e psíquicos do trauma de todas as perdas trágicas aparecerão, mais cedo ou mais tarde, àqueles que direta ou indiretamente sofreram com toda esta mazela, moradores de condomínios afetados, seus respectivos síndicos, enfim, todos estão sendo afetados, de uma maneira ou de outra, com todo o trauma que naturalmente uma catástrofe dessa magnitude, pode acarretar.
Para um segundo momento, para o pós-desastre, em consequência, infelizmente é esperado um evento chamado “SINDEMIA”, isto é, um conjunto de problemas de saúde, sociais e econômicos, interligados de forma sinérgica, que contribuem para o adoecimento global de uma população atingida por uma guerra, catástrofe, evento climático hostil, ou emergência sanitária, como foi a Covid-19. Neste sentido, é comum e esperado, que as pessoas, direta ou indiretamente atingidas e envolvidas por esses eventos, possam desenvolver em um primeiro momento, além de perdas sociais e econômicas, e doenças contraídas em razão das enchentes, sintomas emocionais e psíquicos nocivos, onde emoções como raiva, medo e ansiedade estão presentes, assim como sentimentos de tristeza e desesperança, isolamento, abandono, confusão mental e psíquica, podendo evoluir em casos mais severos.
Sendo assim, em se tratando de um ambiente condominial, onde a concentração e densidade populacionais são relativamente grandes, é necessário que haja, sobretudo a partir de agora, protocolos de segurança e de contingência, elaborados coletivamente, entre os síndicos e seus respectivos condôminos, contemplando também um protocolo de emergência em saúde mental, onde profissionais da saúde mental, tais quais, psicólogos e psiquiatras, sejam acionados a darem sua contribuição voluntária, tal qual acontece atualmente em todas as frentes de atenção aos atingidos pela catástrofe no RS.
É de suma importância, portanto, que a partir de agora possa haver em cada condomínio, um protocolo em saúde mental para essas situações, onde esses profissionais possam ser acionados a servir e colaborar com os síndicos, por tratar-se de fardo demasiadamente grande para somente ele poder gerir, haja vista a magnitude e complexidade do problema.
Danilo Lopes é Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta.
