Se tem uma coisa que os meus 12 anos exercendo na sindicatura me ensinaram é que por mais experiente que você seja nessa função, sempre haverá momentos e situações inusitadas que exigirão aperfeiçoamento e capacitação.
Algumas situações inusitadas são tão aleatórias que o verdadeiro aprendizado está na capacidade de superá-las, muito mais do que o aprendizado do processo para revivê-la. A mais recente situação que vivi neste sentido diz respeito a um filhotinho de felino que foi encontrado vagando pela garagem de um condomínio no bairro Itacorubi. Após o bichano ser entregue na portaria do condomínio, realizamos todos os procedimentos básicos que nos eram previstos, acomodar o animalzinho em local seguro e divulgá-lo nos meios de comunicação para a massa condominial.
Nossos problemas começaram quando foram passando as horas e nada de um possível “dono” do animalzinho surgir. Já pelas 21h da noite imaginávamos que caso ninguém reclamasse a “posse” do bichano, teríamos que soltá-lo, prevendo que ele teria capacidade de retornar ao seu lar. Já que tínhamos receio de que se o animal pernoitasse na guarita com o vigilante poderia nos trazer algum problema trabalhista. Então neste horário emitimos outro comunicado informando que se ninguém reclamasse a posse do animal até às 20h30min, iríamos ter que soltá-lo. Vários condôminos entraram em contato conosco imediatamente, fora as rejeições marcadas na mensagem em forma de “dislike”. Evidenciando a nossa atitude de forma negativa. Inclusive nos passaram a informação, que até aquele momento ignorávamos, que se fizéssemos isso caracterizaria crime de abandono de animais. Foi aí que realmente tínhamos um problema nas mãos que as capacitações para o exercício da sindicatura não haviam nos preparado.
De uma hora para outra, uma situação que parecia simples e corriqueira, se tornou uma crise. E o pior, eu não tinha ideia do que fazer. Minha primeira ideia foi procurar o Centro de Zoonose Municipal de Florianópolis, mas lá eles me informaram que só coletam animais silvestres, peçonhentos ou feridos. Que não era o caso do nosso bichinho. Também reforçaram a responsabilidade de mantê-lo em segurança até aparecer o tutor. Sim, tutor é o termo utilizado para se dirigir ao que eu chamava de “dono”. Divulgamos também para os grupos de whatsapp do bairro, e também fiz contato com os síndicos dos condomínios vizinhos. Nesta altura alguns condôminos já haviam se mobilizado e providenciado ração e uma maleta para transporte de gatos, onde o bichinho poderia passar a noite em segurança. Na manhã seguinte eu já colecionava pouco mais de uma dezena de mensagens de condôminos preocupados com o futuro do nosso hóspede.
Descobrimos durante a noite que se tratava de uma gatinha e que ela havia sido castrada recentemente. Eu me lembrei do DIBEA (Diretoria do Bem-estar Animal), que realiza esse procedimento gratuitamente, onde coloca um microchip nos animais castrados por eles. Fomos ao DIBEA e lá confirmamos que a gatinha possuía sim um microchip que tinha sido colocado por eles durante a castração. Quase 24 horas depois a gatinha Babalu foi devolvida para a tutora, deixando uma família com duas crianças muito felizes. Imediatamente comunicamos à massa condominial que a situação estava resolvida, choveram “likes” na postagem, o que nos tranquilizou bastante. E você colega síndico já passou por isso, ou algo tão inusitado que não está previsto nos manuais de sindicatura? Gostaria muito de saber da sua história.