Conviver em condomínio exige a prática diária e persistente do bom senso.
Essa é a base da harmonia e do bem-viver, fundamental em qualquer sociedade, especialmente na sociedade condominial, composta por várias famílias, com pensamentos e convicções que podem ser os mais diversos. E a grande barreira a ser enfrentada por síndicos e gestores condominiais parece estar relacionada justamente a uma certa falta, por parte dos condôminos, de senso de coletividade e de consciência do que seja viver em sociedade.
Entretanto, isso não é “privilégio” apenas dos condomínios. É problema enfrentado por todas as organizações sociais e pelos responsáveis por espaços urbanos em geral. Há, entre a grande maioria das pessoas, uma falta de interesse, de participação e de envolvimento com o coletivo. E os moradores dos condomínios são os mesmos que estão nas ruas, nos ônibus, nos aeroportos, nos supermercados, nos eventos públicos etc. Trata-se de um problema social. Não há dúvidas de que o limite entre o conviver bem e o conviver mal é uma linha tênue. Pessoas despreparadas para viver em comunidade e sem paciência para, por exemplo, suportar os ruídos do dia a dia, precisam rever seus conceitos, pensar mais no que estão fazendo e no que realmente lhe afeta.
Para que as regras de boa vizinhança sejam consideradas rompidas em um condomínio, é preciso que o ato que gerou a reclamação impacte também os demais condôminos dentro da regra dos três “S”: sossego, segurança e salubridade. Se é apenas um condômino que protesta, e não toda a comunidade, a necessidade de aplicação do regulamento do condomínio precisa ser analisada pelos gestores. Precisamos refletir. Conviver é aceitar as diferenças e o oposto a isso significa impor a vontade, o que não combina com os princípios mais basilares que regem a convivência humana. Mesmo que, atualmente, o ser humano esteja cada vez mais impaciente e em busca de ambientes que o separem do convívio com estranhos, o afastamento entre as pessoas não pode representar solução para problemas do condomínio, nem pode ser um dos objetivos do síndico, pois um de seus papéis é ser conciliador. Um líder agrega e busca a melhor solução para conflitos. A verdade é que o tempo passa, as coisas mudam e é a essas mudanças que todos precisamos nos adaptar. As regras também precisam se moldar aos novos tempos e, para isso, para que atendam às diferenças nas formas de pensar, precisam se ajustar a este momento de quebra de paradigmas. Em resumo, o síndico, na hora de resolver conflitos, deve ter sempre em mente duas questões: a primeira é que a verdade pode não estar somente de um lado e a segunda é que as regras – inclusive as do condomínio – estão sempre em pleno confronto com a nova realidade de pensamento, essa que nunca para de surgir. É com base nesses dois pilares que o síndico deve interpretar e aplicar as regras.
Rafael Sardá - Contador, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, pós-graduado em Auditoria Contábil, especialização em Auditoria Condominial, escritor, com dois livros publicados sobre Administração de Condomínios, sócio da Sensato Contabilidade Empresarial e Administradora de Condomínios onde trabalha desde 1995.