Crônica de uma síndica em apuros - Barulho de ex

Crônica de uma síndica em apuros - Barulho de ex

A Mariana do bloco A, apartamento 703, sempre foi uma mulher independente. Ela é bem expansiva e conversa com todo mundo. É o que chamamos de mulherão: não só pelas formas avantajadas, mas principalmente pelo largo sorriso que carrega sempre com ela.

Ela diz o que pensa, e nas assembleias dá sua opinião e sempre procura ser ponderada e ouvir os outros, de um jeito engraçado e bem humorado. É o tipo de pessoa que suaviza o ambiente. Todos gostam dela, alguns a invejam. Ela mora aqui há uns dois anos e já circulou com alguns namorados. Não, eu não sou indiscreta, sei disso porque vez ou outra ela registra na portaria a autorização de entrada e quando o romance termina ela avisa que fulano não pode mais entrar.

Um mês atrás um casal se mudou para o 603 do bloco A. Eu tive a impressão de que conhecia o sujeito, mas sei lá, convivemos com tantas pessoas nessa vida de síndica que não dei muita importância. Até que ele começou a reclamar de barulho excessivo do apartamento de cima. Sim, a Mariana.

Eu achei muito estranho, pois nunca ninguém reclamou dela. As queixas eram de portas batendo a cada meia hora, móveis sendo arrastados de madrugada, pisadas fortes no chão, objetos caindo o tempo todo. Queixas generalizadas e imprecisas.

Como síndica atuante e no intuito de evitar que o condomínio se torne um lugar de difícil convívio, precisava agir. No dia em que eu iria redigir uma advertência para o 703, encontrei Mariana no hall de entrada. Ela como sempre super alegre, então depois dos cumprimentos triviais resolvi tocar no assunto:

⎯ Mariana, está acontecendo alguma coisa nesses últimos dias? Você está com visitas? Pergunto isso porque houve reclamações a respeito de barulhos vindos de sua unidade – expliquei ligeiro para ela não pensar que eu estava sendo indiscreta.

⎯ Não Maria, estou sozinha nesses dias. Que estranho, minha rotina está como sempre foi – disse ela pensativa.

⎯ Vizinhos novos, talvez estranharam alguma coisa – caí na bobeira de fazer esse comentário, mesmo sabendo que não se deve revelar a fonte da reclamação, para evitar represálias, apesar de que conhecendo Mariana sabia que ela jamais agiria de forma mesquinha.

⎯ Ah, então está explicado – falou ela amenizando a situação – deve ser alguém que nunca morou em condomínio e quer o mesmo silêncio de uma casa. Eu sempre ouço meus vizinhos, até sei quando é dia de faxina. Isso é normal, logo ele acostuma.

Nisso abre o elevador e uma jovem meio tímida nos cumprimenta e com esforço abre um sorriso e vem logo se apresentando:

⎯ Oi, eu sou a Bruna do 603, parece que a senhora é a síndica né, eu estou adorando o condomínio.

Mariana e eu nos olhamos. Nesse momento o marido da Bruna entra pelo hall e para petrificado olhando para nós três.

⎯ Esse é o Paulão, meu marido – disse a jovem sem perceber o climão que se formara.

⎯ Olá, eu sou a Maria, síndica, e essa é a Mariana sua vizinha – falei de forma gentil e continuei – sua esposa disse que adorou o condomínio, e o senhor? Tem gostado? Alguma reclamação?

Dei uma cutucada mesmo, pois receber e-mail quase todo dia com reclamação, às vezes fala mais do reclamante do que do reclamado.

⎯ Não, tudo ótimo – falou ele e puxou a esposa para o elevador – até mais – disse ele olhando duro para Mariana enquanto o elevador se fechava.

Mariana caiu na gargalhada e eu não entendi nada.

⎯ Ele é meu ex. Não ligue Maria, o cara é esquisito mesmo. Juro que as reclamações são infundadas e aconselho a pedir provas se ele reclamar de novo, pois não quero ter complicações com um condomínio tão bem conceituado até então, por causa de um cara que nunca aceitou um ‘pé na bunda’ – disse ela divertida.

Tadinha da moça, até gostei dela.

É, minha gente, ser síndica é fácil, difícil mesmo é lidar com as questões emocionais de pessoas tão diversas. Difícil é estar entre a subjetividade das relações humanas.

Martinha Silva é graduada em Administração, especialista em Gestão de Pessoas, gestora condominial em Itajaí e escritora.

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