O curta-metragem de ficção Heyari (2024, 20 minutos), que na língua yanomami significa “espalhar fumaça para fazer adoecer colocando feitiço no fogo”, narra as consequências do colapso climático em um conjunto habitacional.
Filmado no Condomínio Habitacional Panorama, o maior de Florianópolis, com 800 apartamentos, 41 blocos e 5 mil habitantes, localizado no bairro Monte Cristo, teve participação de moradores no elenco e na produção. A primeira exibição foi para os próprios moradores, em outubro.
No filme da produtora Punktu, com direção e roteiro de Daniel Leão, vencedor do Prêmio Catarinense de Cinema 2021, o calor sem precedentes e o avanço do mar fazem as pessoas fugirem do litoral em direção à serra. Quem fica enfrenta mortes em decorrência do calor, especialmente entre os idosos, loucura, notícias falsas, vandalismo e escassez de comida. O ex-garimpeiro Viktor, protagonizado por Antônio Cunha, tem sua casa tomada pelo mar e retorna ao apartamento que era de sua mãe. Joana, vivida pela atriz Solange Adão, uma devota negacionista das mudanças climáticas, se recusa a fugir com seu filho para a serra. Juntos, Viktor e Joana se veem cada vez mais sozinhos em um mundo ameaçador, sem eletricidade, comunicação e alimentos. Joana se transforma no que mais teme para sobreviver: uma invasora de apartamentos, questionando sua fé, enquanto aguarda o retorno de seu filho.
O projeto do filme surgiu em 2021, quando o diretor Daniel Leão pesquisava sobre mudanças climáticas mundiais, enquanto Florianópolis passava por uma ressaca de grande extensão com destruição de casas pelo mar no bairro Morro das Pedras e dunas invadindo habitações nos Ingleses. O filme discute os efeitos do calor excessivo nos bairros periféricos de grandes centros urbanos, em regiões menos arborizadas, e o seu impacto sobre a vida da população, principalmente de idosos solitários que falecem mais durante ondas de calor, os que decidem partir e os que ficam, os que percebem a gravidade e os que insistem em negar o que está acontecendo, alimentados por notícias falsas.
O projeto do filme surgiu em 2021, quando o diretor Daniel LeãoToda a produção foi pensada e realizada de forma colaborativa com os moradores. As filmagens foram em janeiro de 2024, com a cooperação dos condôminos para gravar cenas em áreas de grande circulação, como o estacionamento, entrada e corredores dos blocos, e também para o silêncio durante as gravações. Os moradores participaram de uma oficina de atuação e fizeram parte do elenco junto a atores profissionais, inclusive uma das primeiras habitantes do condomínio construído na década de 1980 pela Cohab, Cristina Costa.pesquisava sobre mudanças climáticas mundiais, enquanto Florianópolis passava por uma ressaca de grande extensão com destruição de casas pelo mar no bairro Morro das Pedras e dunas invadindo habitações nos Ingleses. O filme discute os efeitos do calor excessivo nos bairros periféricos de grandes centros urbanos, em regiões menos arborizadas, e o seu impacto sobre a vida da população, principalmente de idosos solitários que morrem mais durante ondas de calor, os que decidem partir e os que ficam, os que percebem a gravidade e os que insistem em negar o que está acontecendo, alimentados por notícias falsas.
Numa iniciativa do filme de distribuir renda localmente, trabalhadores do condomínio, como os zeladores, também participaram das gravações e de funções de produção. Três apartamentos foram locados e transformados pela equipe de direção de arte, móveis e objetos de cena foram locados no comércio do bairro e a produção contribuiu ainda para aquecer as vendas dos armazéns, padarias e restaurantes da vizinhança. A produção prezou ainda pela diversidade no elenco, com atores negros, como a protagonista, uma atriz surda (Angela Okomura) e um ator cadeirante (Sidnei Junior). Ao todo, 57 pessoas estiveram envolvidas no filme, entre equipe técnica, elenco e figurantes.
Como contrapartida social e incentivo à profissionalização na área, foram realizadas duas oficinas, uma de atuação com o ator e preparador de elenco Gringo Starr e outra de produção audiovisual, com Lucas Tirelli, durante uma semana, concluindo com a realização de um curta gravado com celular.
A produtora Punktu tem uma longa relação com o condomínio. A diretora de produção Djuly Gava e a montadora Amanda Rauber residiram por mais de uma década no Panorama e suas famílias vivem lá até hoje. Este é o segundo filme de uma trilogia da produtora que tem o condomínio como cenário. O documentário Panorama (2023), de Djuly Gava e Daniel Leão, reuniu memórias fotográficas dos moradores. O terceiro, Três dias, será um docuficção em que os habitantes irão encenar dias significativos de suas vidas no local.