Especialistas comentam sobre as novidades do mercado imobiliário voltada para a terceira idade, e o que é essencial para garantir moradias acessíveis às pessoas mais velhas.
Com o progressivo envelhecimento da população mundial, diversos setores do mercado vêm buscando se adaptar ou, ainda, se reinventar a fim de atender às demandas dessa população de mais idade. Não é diferente na arquitetura e construção: uma vez que os idosos apresentam diferentes necessidades, o mercado imobiliário também busca oferecer diferenciais a essa população na construção de moradias.
Norton Mello é CEO da BIOENG Projetos, engenheiro civil, mestre em engenharia biomédica e PhD em senior living. Segundo ele, um dos maiores desafios enfrentados no desenvolvimento de moradias acessíveis está relacionado à carência sistêmica de modelos, uma vez que o envelhecimento acontece de forma diferente entre as pessoas. “A oferta de mais modelos de habitações certamente irá colaborar para um ajuste mais razoável entre as expectativas da sociedade e o mercado imobiliário”, afirma.
Dentro dessas diferenciações entre o envelhecer das pessoas, ele destaca que, por exemplo, hoje muitos idosos trabalham, praticam atividades físicas e tem rotinas cheias. “Atualmente, o desejo do idoso é ter uma vida vibrante, ativa, alegre, independente e inclusiva. Os empreendimentos devem se localizar dentro da urbanidade em que a pessoa está inserida, não é justo sequestrar essa possibilidade isolando na periferia das cidades sob a desculpa de ambientes mais silenciosos e contemplativos”, ressalta.
Além da região de inserção dessas moradias, é importante que os próprios condomínios estejam antenados às diferentes necessidades da população. Maria Fernanda Beneli Vicente, gerente de marketing do grupo A.Yoshii de engenharia, destaca: “Essas pessoas gostam de participar de atividades coletivas e individuais e, para isso, espaços para a prática de pilates ou atividades com personal training e fisioterapeutas são interessantes”. Salas de reunião e a acessibilidade das piscinas também são pontos que, segundo ela, merecem atenção.
Acessibilidade
Com relação aos itens de acessibilidade para o dia a dia, Norton ressalta que a arquitetura para o senior living deve pensar muito além das restrições de mobilidade física. Outros fatores devem ser considerados, como o decréscimo da audição, da acuidade visual e o possível surgimento de outras questões de saúde.
Além de rampas com inclinações mais suaves, ele cita como essenciais: iluminações com temperaturas mais elevadas em alguns ambientes, contrastes mais evidentes entre mobiliários e pisos, corredores mais largos e com corrimão, pisos antiderrapantes, portas mais largas para a passagem de cadeira de rodas ou andadores e fechaduras ergonômicas.
“Os empreendimentos devem oferecer ambientes que favoreçam a manutenção das habilidades físicas, motoras, cognitivas e sociais e, sempre que possível, estimulem o desenvolvimento de novas habilidades”, explica o especialista. Além disso, ele destaca a relevância da transgeracionalidade: disponibilizar ambientes que estimulem o encontro entre diferentes gerações e a permeabilidade social.
Idosos conectados
Muito mais conectados do que anos atrás, os idosos de hoje em dia também fazem uso da tecnologia no dia a dia e podem, ainda, encontrar nela o auxílio para sua rotina. Itens facilitadores, como o reconhecimento facial, automação de ambientes, robôs de telepresença, sensores de movimento, alarmes de incêndio e detectores de vazamento de gás estão sendo incorporados às atividades diárias, em um movimento que Norton define como “um olhar mais empático” do mercado de senior living.
Para Maria Fernanda, é essencial que a área de construção civil pense em soluções inovadoras, que “saiam do imaginário popular de que esse público precisa apenas de acessibilidade e espaços para uma simples caminhada”. Para isso, destaca o oferecimento de propostas voltadas ao lazer e à vida social, à valorização da ergonomia, dos espaços verdes e de outros diferenciais que essa geração tem experimentado verdadeiramente.
Já Norton lembra que o aumento da população longeva será de 71% até 2030, na América Latina, índice muito maior do que em outros continentes. “Dentro desse cenário, construtoras e incorporadoras que ignorarem esse mercado sem o desenvolvimento de produtos imobiliários que tenham uma linguagem amigável para o público idoso, certamente terão mais dificuldades em suas vendas”, finaliza.
Fonte: Casa Vogue