Quem conhece ou mora no Rio de Janeiro talvez não fique espantado em saber que o primeiro aparelho de ar-condicionado do mundo começou a ser produzido na Cidade Maravilhosa. Em 1904, técnicos e engenheiros já buscavam um alívio para as temperaturas elevadas e tentavam resfriar o Theatro Municipal.
A fabricação inédita levou à inauguração do equipamento em 1909. Sua potência conseguia deixar a temperatura da sala de espetáculos até 10ºC abaixo da verificada no ambiente exterior. O primeiro ar-condicionado a entrar em funcionamento, no entanto, foi de invenção norte-americana e começou a operar em 1907.
Ao longo do século XX, porém, esses aparelhos passaram de heróis a vilões. Atualmente, os equipamentos de refrigeração chamam a atenção de pesquisadores, governos e organizações internacionais por seu elevado gasto energético e pela emissão de gases HCFC – substâncias extremamente nocivas à camada de ozônio – envolvidos em sua produção.
Para debater os desafios enfrentados pela indústria e por consumidores para adequar seus usos a padrões mais sustentáveis, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) reuniu em Fortaleza, na semana passada (30, 31 e 1), especialistas nacionais e estrangeiros, além de representantes do Estado brasileiro.
Ao longo do II Seminário sobre Sistemas de Águas Geladas – Chillers, pesquisadores discutiram experiências de comissionamento. Esse processo de planejamento busca assegurar que sistemas e componentes – de iluminação, de refrigeração e do envoltório – de um edifício sejam projetados, instalados, testados, operados e mantidos de acordo com as necessidades e requisitos operacionais do proprietário.
Uma das preocupações dessas adaptações é garantir que a rede elétrica de um prédio funcione de forma eficiente. Quando um aparelho de refrigeração não possui manutenção frequente, é antigo ou não está em bom estado de preservação, sua eficiência não é aproveitada. Com isso, para resfriar um ambiente, ele gasta mais energia do que deveria.
Quando aplicado a edifícios já existentes, o processo é chamado retrocomissionamento e realiza reformas e ajustes para modernizar os padrões da construção.
O representante da Building Commission Association (BCA), Antony Avendano, destacou os benefícios das modificações previstas por planos de comissionamento.
“O comissionamento no sistema de refrigeração, além de agregar valor ao edifício, melhora a saúde das pessoas que trabalham ou frequentam aquele prédio. Ele também garante a segurança do equipamento, para que o próprio usuário esteja protegido”, salientou.
Como exemplo prático, o especialista ressaltou um projeto implementado no prédio das Nações Unidas de Nova York, para o retrocomissionamento de um sistema de refrigeração que utilizava água do rio.
“Era um dos sistemas mais antigos que havia nos EUA. Em 2007, começaram o processo de retrocomissionamento. Eles ainda utilizam água do rio no sistema de resfriamento. Então, é muito interessante poder utilizar esse recurso e melhorar significativamente sua eficiência”, pontuou Avendano.
No Brasil, “na média, os sistemas de água gelada estão operando 25% abaixo dos valores de eficiência energética de seus projetos”, alertou o especialista Tomaz Cleto.
Para garantir melhor eficiência energética, além do processo de comissionamento, é preciso também capacitar e conscientizar a população, para que as pessoas saibam como operar adequadamente os sistemas de refrigeração.
“Há casos em que se liga o ar condicionado às 2h da manhã para que o prédio esteja gelado às 9h, quando os funcionários chegam para trabalhar”, pontuou Cleto.
A fim de avaliar a eficiência energética em edifícios, o Brasil conta com o selo Procel Edifica, do Centro Brasileiro de Informação de Eficiência Energética.
“Quando um prédio recebe etiqueta A, significa que há uma redução de 30% de consumo da energia na edificação, 40% no condicionamento de ar e 30% graças ao envoltório”, explicou o engenheiro brasileiro integrante da American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers, Oswaldo Bueno.
O prédio do Ministério do Meio Ambiente recebeu a etiqueta A em 2015, em projeto fruto de parceria com o PNUD.
Matéria originalmente publicada em Nações Unidas