As enchentes recentes no Rio Grande do Sul revelaram o rastro de destruição e as dificuldades enfrentadas por condomínios e síndicos na tarefa de reconstrução das áreas afetadas.
Só que essa experiência não é uma exclusividade do estado vizinho. Santa Catarina também já enfrentou dramas similares em várias ocasiões, o que proporcionou aos profissionais do universo condominial a oportunidade de desenvolver e implementar boas práticas de gestão de prevenção.
Um bom exemplo disso vem do síndico profissional Rodrigo Lüttke de Miranda, que há sete anos atua no segmento. Em Blumenau, ele já enfrentou diversas situações de enchentes e alagamentos nos condomínios em que administra. O episódio mais recente ocorreu em outubro de 2023, quando o rio Itajaí-Açu atingiu 10 metros, impactando empreendimentos de médio e grande porte.
Para o gestor, a comunicação com os moradores durante esses períodos é crucial. “É fundamental que o síndico monitore o nível do rio durante as cheias e identifique quais condomínios serão afetados. Além disso, é importante conversar com os moradores sobre os impactos de enchentes anteriores para orientar medidas preventivas, como a retirada de veículos das garagens, elevar os elevadores, remover motores de portões de garagem e proteger outros equipamentos eletrônicos”, explica Lüttke.
Orientação também compartilhada por Joel França, que hoje é administrador de condomínios, mas já atuou como síndico por muitos anos. Ele conta que na última enchente, no ano passado, alguns condomínios foram invadidos pelas águas em Rio do Sul. Por isso, destaca a importância de o gestor saber se a sua área é de risco, em quantos metros o local alaga e, assim, acompanhar os sites oficiais, como, por exemplo, da Defesa Civil da cidade.
“Hoje a cidade é mapeada e nós temos as informações sobre o nível do rio a cada hora. Sendo assim, é importante que o síndico saiba com quantos metros entra água no seu prédio, para que possa antecipar as medidas de remoção dos motores elétricos e motobombas, amarração dos botijões de gás, entre outros itens caros que podem vir a ser perdidos pelo avanço da água”, destaca França.
Outro ponto muito sensível, e que ele reforça a importância do cuidado para evitar gastos desnecessários, é o elevador. “Quando a água entra no fosso do elevador vai direto para o primeiro andar. Dessa forma, para evitar que o equipamento queime, tem que subir o elevador até o último andar e desligar, pra que ninguém utilize”, explica o administrador.
Prevenção e reconstrução
Entre as medidas de segurança preventivas, França destaca a importância de se estabelecer uma boa comunicação e de o síndico estar muito bem orientado sobre todo o processo, para não acabar atropelando as etapas. “O primeiro passo é comunicar para os moradores a possibilidade de uma enchente no condomínio, para que todos fiquem em alerta e consigam tirar seus carros das garagens e demais pertences de valor. A partir daí que o síndico vai começar a se preparar com os prestadores de serviço para fazer a remoção de todos os equipamentos do condomínio de forma antecipada”, explica.
O administrador conta que depois que a água entra não tem mais o que fazer, só resta esperar ela baixar. “Via de regra, o primeiro passo após enchente é limpar o espaço e trazer a acessibilidade e segurança de volta. O síndico retoma o funcionamento do elevador, reinstala as motobombas, coloca os motores dos portões. Mas é importante que todos tenham ciência que este processo de recuperação pode se estender por um longo período”, pontua França. É nesse momento que entra em ação o plano para contabilização do prejuízo e do que será necessário para a reconstrução.
Em Rio do Sul, oito meses após a enchente muitos condomínios ainda estão se reestruturando e não conseguiram sequer fazer as reformas necessárias, porque ainda estão esperando as paredes secarem. “Nós tivemos alguns halls, entradas de prédios, que foram todos perdidos. O gesso teve de ser trocado inteiro. E no salão de festas estufou móveis, enfim, é destruição total”, relata França
O administrador comenta inclusive que recentemente fez uma assembleia aprovando uma chamada de capital de R$ 150 mil para recuperar os danos em um dos prédios que administra. Já em outro empreendimento o entendimento foi para a compra de um bote com remo e coletes salva-vidas para deixar no condomínio, para regastes em caso de uma nova enchente.
Como dica para evitar perdas financeiras muito elevadas, Lüttke orienta os gestores a manterem o seguro da edificação em dia, com uma cobertura ampla para danos causados por alagamentos. Além disso, outro ponto que o síndico destaca como indispensável é o de garantir a manutenção preventiva de telhados, calhas e rufos, para prevenir infiltrações.
Políticas públicas
Historicamente a região do Vale do Itajaí sofre com inundações. Só que a incidência de desastres deste tipo tem aumentado nos últimos anos. Por isso, para evitar que cenas como a das enchentes de 2023 voltem a se repetir no Vale do Itajaí, o Governo catarinense irá investir R$16,2 milhões para o desassoreamento dos rios e limpeza das margens. Serão mais de 8km divididos entre os rios Itajaí do Sul, Itajaí do Oeste e, após a junção deles, o próprio Rio Itajaí-Açu.
“Em Santa Catarina, enfrentamos problemas de desastres em todas as localidades e, portanto, promovemos estudos específicos para cada área e executamos as obras onde os projetos já estão prontos. Desde a década de 80, a JICA (Japanese Internacional Cooperation Agency) promove estudos para mitigação de inundações aqui e que a gente faz hoje, esse trecho urbano de desassoreamento, de melhoramento fluvial. É a primeira ação desse tipo, prevista nos estudos da JICA e que começa a ter um impacto direto e significativo na mitigação de inundação”, relatou o secretário de Estado da Proteção e Defesa Civil, Fabiano de Souza.
Para Jorginho Mello, governador do Estado, a medida busca aliviar o sofrimento dos moradores da região, tão duramente castigados em tempos de chuva. “Vamos começar um processo que será longo, mas que busca dar ânimo aos empresários e às famílias que aqui moram. Assim, a gente vai atenuando e diminuindo esse impacto de prejudicar toda a sociedade”, reforça.
Cuidados e prevenção (Fonte - Dicas Defesa Civil de SC)
•Não jogue lixo ou entulhos em bueiros (boca de lobo) e/ou córregos, para não obstruir a passagem de água;
•Não construa residências próximas a córregos (podem inundar) ou a barrancos (pode haver deslizamento);
•Em caso de alagamentos, inundações e enxurradas, evite o contato com as águas e não dirija em lugares alagados;
•Evite transitar em pontilhões e pontes submersas e cuidado com crianças próximas de rios e ribeirões;
•Deve ser observado qualquer movimento de terra ou rochas próximas a suas residências e inclinação de postes e árvores. Neste caso, é recomendável que a família saia de casa e acione a Defesa Civil municipal ou o Corpo de Bombeiros;
•Após o fim das chuvas não use equipamentos elétricos que tenham sido molhados, pois há risco de choque elétrico e curto-circuito;
•É preciso ainda cuidado com a água que for beber (atenção ao odor e à mudança de cor), pois ela pode ter sido contaminada pela inundação, trazendo riscos à saúde.