Cada vez mais o mercado de condomínios em Santa Catarina tem eventos que qualificam os profissionais da área, e nos dias 18 e 19 de outubro Florianópolis recebeu o 1º Fórum Catarinense de Engenharia Condominial, evento realizado pela Associação de Síndicos de Santa Catarina – ASDESC, que destacou a importância da gestão técnica e da manutenção especializada em condomínios.
Com a presença de profissionais renomados em âmbito nacional, o encontro contou com a participação de síndicos, administradores condominiais e engenheiros civis. O foco do evento foi discutir os desafios contemporâneos e as inovações no cuidado com fachadas de edifícios.
O evento teve 12 horas de conteúdo intensivo e especializado, em que os palestrantes abordaram questões essenciais para garantir não apenas a valorização dos imóveis, mas a segurança e o bem-estar dos moradores. Além disso, as palestras evidenciaram como a prevenção de problemas construtivos pode ser tão relevante quanto a própria construção dos edifícios, apontando para uma necessidade crescente de profissionalização da área.
“O que é uma assembleia de condomínio quando o problema é de engenharia? Um agrupamento de não técnicos, tomando decisões técnicas, sem conhecimento técnico e normalmente sem aconselhamento, fora os engenheiros de obra pronta”, destacou o palestrante Lawton Parente, engenheiro civil especialista e mestre em fachadas prediais. Sua fala ressaltou a importância de que decisões sobre a manutenção de edifícios sejam fundamentadas em pareceres técnicos, apontando os riscos de negligenciar conhecimentos específicos de engenharia em prol de opiniões leigas.
Outro ponto abordado com profundidade foi a análise das “patologias” (problemas evidentes) mais comuns nas construções ao longo dos anos. Paulo Silva, engenheiro civil, especialista em projetos de fachadas e revestimentos, comentou sobre as recorrentes falhas que surgem nos revestimentos prediais, relacionando esses problemas com as escolhas de materiais e métodos de aplicação que foram feitas no passado.
“Cada período da construção predomina algumas patologias. Quando as pastilhas estavam no auge era o descolamento das pastilhas, e ao invés de buscar a correção do assentamento houve a troca por sistemas de textura e pintura”, explicou.
Paulo também observou que as escolhas inadequadas de manutenção levam ao surgimento de novos problemas: “Hoje a gente vê proporcionalmente ao que aconteceu com as pastilhas o sistema de pintura trincando e fissurando”, afirmou, ressaltando a necessidade de práticas de manutenção bem embasadas e realizadas por profissionais qualificados.
Já o engenheiro civil e mestre em estruturas e construção civil Matheus Leoni abordou uma palestra sobre as técnicas de inspeção de fachadas, tema que levantou debate dos síndicos. A utilização de drones, especialmente quando utilizam câmeras térmicas acopladas é atualmente uma das técnicas inovadoras de inspeção de fachadas, citou o especialista. “Esta ferramenta traz inúmeras vantagens pela proximidade do ponto de análise e ajuda muito na precisão dos diagnósticos. Agrega ao trabalho de profissionais que desenvolvem laudos de edificações por ser mais prática e segura, além de realizar uma filmagem completa de todos os pontos da fachada e permite que a documentação fotográfica relativa aos problemas verificados seja feita em alta resolução”, salientou.
O engenheiro civil e mestre em tecnologia de construção de edifícios Renato Sahade trouxe como tema a utilização de nanotecnologia em fachadas na criação de revestimentos autolimpantes, repelindo água e resistindo à umidade. “A engenharia de materiais e a nanotecnologia em materiais de construção ainda é pouca explorada apesar de seu grande potencial no desenvolvimento de uma nova geração de revestimentos inteligentes e ecoeficientes”, afirmou, ressaltando que a tecnologia pode gerar edificações com maior durabilidade e economicamente sustentáveis do ponto de vista da manutenção.
O encontro finalizou com uma rodada de perguntas e tira-dúvidas entre os especialistas e o público participante e contou ainda com a apresentação do Manual do Síndico do CREA/SC pelo engenheiro Leopoldo Vinter, elaborador da publicação e que está em sua 4ª edição. O manual foi feito para ser um guia completo para síndicos, proprietários, condôminos e profissionais prestadores de serviços na hora da elaboração de projetos e execução de manutenção e reformas.
Para Gustavo Camacho, presidente da Associação de síndicos de Santa Catarina - ASDESC, entidade realizadora do evento, a realização do Fórum foi de grande importância para o setor no Estado. Ele destacou o apoio dos engenheiros Leopoldo Vinter e Váldima Siqueira em trazer os quatro especialistas para Santa Catarina, e também do CREA/SC e MÚTUA/SC e demais patrocinadores.
“Realizamos o evento pensando na tríade que são os condomínios edilícios, iniciando pela operação de construção, onde toda edificação tem um apelo necessário à engenharia e arquitetura. A segunda operação é a jurídica, porque todo condomínio edilício possui a ficção jurídica e pode ser vendido em frações ideais, sem a necessidade da anuência dos demais coproprietários. E, terceiro, a operação de gestão, que tem a ver com o alinhamento de todas as expectativas dos residentes no condomínio. Acreditamos que esse será o primeiro de muitos e vamos já calendarizar esse evento para que a gente consiga trazer outros grandes nomes, ou até mesmo esses grandes nomes, para tratar de outros sistemas das edificações”.
Edgar Francis, síndico profissional e fundador da associação, encerrou o evento enfatizando a importância da atuação da ASDESC junto aos síndicos e a relevância de encontros como esse para a capacitação do mercado.
No total, o Fórum representou um marco para a engenharia condominial em Santa Catarina, sendo o primeiro evento do tipo a abordar de forma tão detalhada os impactos da má manutenção e das falhas construtivas nas fachadas e estruturas de condomínios.