Casos de síndicos que furtaram o caixa vêm à tona e estão em investigação no Estado
Recentemente, alguns episódios que podem ser enquadrados como apropriação indébita ou furto em condomínios vieram à tona no Estado, colocando em xeque a confiança depositada na gestão. Em ambos os casos há um ponto em comum: a ação de síndicas mal-intencionadas. O que deveria ser um papel de zelo e proteção transformou-se em traição e desvio.
Conforme relata Joice Honório, atual administradora de um dos empreendimentos, localizado em Itajaí (SC), nesse espaço os moradores foram lesados em mais de R$ 200 mil, após a ex-síndica se apropriar dos recursos do prédio. O crime só foi descoberto porque a gestora sumiu após ser pressionada por alguns condôminos.
“A síndica deixou uma carta confessando e fugiu do prédio deixando um rombo nas finanças e muitas dívidas a serem pagas”, explica Joice. No comando do espaço desde 2019, ela diz que hoje o condomínio está bem, com as manutenções em dia e fundo de reserva preservado, além de estar investindo em melhorias e benfeitorias.
Mas o caso segue em tramitação na justiça, enquanto os moradores aguardam o veredicto final. Só que não para por aí. Outros casos, notificados em São José (SC), também chamam a atenção pela audácia da estratégia utilizada. A gestora, que era responsável pela administração de dois espaços na região, esvaziou as contas dos prédios. E, a última atualização é de que ela desapareceu, levando consigo o dinheiro e um currículo invejável quando o assunto é desvios.
Segundo o relato de um dos condôminos lesados, a síndica começou a gestão mostrando trabalho e conquistando a confiança de todos. Mas logo em seguida passou a limpar as contas dos condomínios.
“Ela desviou sistematicamente fundos para sua conta pessoal, mascarando transações fraudulentas como despesas legítimas. Parcelou faturas de serviços essenciais, assumindo a responsabilidade financeira enquanto embolsava os valores destinados ao bem comum”, relata um morador. Ele comenta ainda que o resultado foi um rombo financeiro e abalo emocional de todos, deixando os moradores perplexos e desconfiados.
Como tudo aconteceu
De acordo com o relato do morador, a suspeita começou com os atrasos na entrega dos balancetes em meados de 2023. “Foi o conselho que começou a desconfiar que havia algo de errado.
Sendo assim, ficaram em cima da ex-síndica, cobrando diariamente a prestação das contas. Mas, a gestora colocava a culpa na contabilidade, que por sua vez devolvia que não havia recebido os extratos bancários para fechar o balanço mensal”, explica.
Como em um efeito cascata, começaram a chegar os avisos de corte de serviços por falta de pagamento. E, logo em seguida, descobriram que o condomínio da frente passava por uma situação parecida com a mesma gestora. O caso está sendo investigado pela
3a Delegacia de Polícia de São José, que abriu inquérito para apurar os fatos e ouvir os envolvidos.
Como se proteger?
Para especialistas da área condominial, o conselho deliberativo é parte essencial nos cuidados com as finanças. E, de acordo com o advogado Eliel Karkles, uma atuação firme e constante é necessária.
“Não se pode imaginar que o ato de ‘aprovar’ os balancetes é uma mera formalidade. Os conselheiros precisam analisar documentos, ingressos e saídas de valores, saldos e aplicações, exigir esclarecimentos e caso perceba algo de errado deve recusar as contas sem piedade”, reforça Karkles.
Ele explica ainda que, até que se tenha certeza de eventuais ilegalidades, nenhuma acusação deve ser feita. Na falta de esclarecimentos por parte do gestor, o indicado é convocar uma assembleia para a prestação de contas. Entre as penalidades legais,
o advogado lembra que esse tipo de situação pode ser caracterizado como: furto, com pena de 2 a 8 anos de prisão; ou, de acordo com a prática delituosa, ser enquadrado como apropriação indébita. Além dos ilícitos cíveis, em que a síndica deverá indenizar o condomínio pelos danos causados.
Evite correr riscos
• Na época da eleição ou mesmo candidatura do síndico, faça uma rápida pesquisa na Internet com o nome completo dos interessados. Se houver processos judiciais de algum condomínio contra o candidato isso já é um péssimo indicativo;
• Tenha um conselho fiscal atuante e meticuloso na verificação de contas e documentos
dos balancetes. Se o conselho é daqueles que tudo aprova sem nada anotar ou ressalvar, algo deve estar errado, ou ainda o conselho é omisso;
• Faça uma revisão na Convenção e Regimento Interno do condomínio, por um advogado especializado na área e crie normas claras para reduzir os riscos. É preciso fazer algo dife-
renciado e específico para cada empreendimento, de acordo com a vontade e interesse dos
condôminos.
Fonte: Eliel Karkles