Há pouco mais de uma década desempenhando o exercício da sindicatura, tenho acompanhado o posicionamento de vários entusiastas e mentores desta função.

Curiosamente venho percebendo a defesa de duas linhas de modelo de gestão que tem se destacado nos cursos de capacitação e mentorias para síndicos de alta performance. Guardadas as devidas proporções e ênfases do discurso de cada mentor, basicamente as capacitações abordam dois aspectos da gestão condominial: o exercício da sindicatura de forma genérica e o exercício da sindicatura personalizada. Posso dizer que cada uma dessas abordagens refletem prioridades e perspectivas diferentes para a gestão condominial.

Na capacitação para o exercício da sindicatura de forma genérica tenho observado o foco na gestão com o comprimento restrito das conformidades legais, normas regimentais e convencionais. Nesse modelo, o condômino é visto predominantemente como um usuário do condomínio, e as decisões da administração são orientadas principalmente pela necessidade de manter a ordem e a legalidade no espaço compartilhado. A prioridade é a conformidade, o patrimônio, o sossego, a saúde e a segurança. Anseios personalizados da coletividade são tratados com superficialidade.

Já na capacitação para uma sindicatura voltada a uma gestão personalizada, a ênfase é na experiência do condômino, onde este é tido como um cliente. Nesta abordagem os mentores se apoiam em conceitos consolidados no universo corporativo que ecoam nas vozes da imensa maioria dos gurus que costumam usar grandes corporações como modelo que tiveram sucesso nessa linha. Porém, por ser personalizado é difícil usar um condomínio como exemplo, já que a personalização depende do anseio da massa condominial, e os anseios são distintos.

No entanto, a prática da sindicatura com o tempo nos ensina que adotar pura e simplesmente somente uma das duas abordagens pode tornar desafiador o desejo de atuar em alta performance. Uma vez que para isso é preciso saber equilibrar a observação das conformidades ao mesmo tempo que atendemos aos anseios da coletividade.

Para trazer equilíbrio entre esses dois modelos, defendo a tese da sindicatura com personalização responsável. Nesse modelo de gestão condominial, é realizada uma observação equitativa do perfil dos condôminos, levando em consideração suas necessidades e desejos individuais, sem negligenciar a importância da conformidade com as leis, normas regimentais e convenções. Valoriza-se o patrimônio comum, preservando a sua integridade, ao mesmo tempo em que se busca atender aos anseios coletivos que não comprometem esses princípios fundamentais.

A sindicatura com personalização responsável busca encontrar um equilíbrio delicado entre a conformidade e a satisfação do condômino. Isso envolve a criação de boas práticas de gestão que consideram tanto o aspecto legal, quanto o humano da vida condominial. Ao adotar essa abordagem, os mentores podem dizer aos colegas síndicos, que eles podem promover um ambiente harmonioso e bem gerenciado, que atenda às expectativas dos moradores enquanto mantém a integridade do condomínio, valorizando e preservando a importância de ambos os modelos.

Rogério de Freitas é síndico profissional, graduado em Administração de Empresas e pós-graduado em Marketing e Gestão Empresarial.