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Em cinco anos, incêndios por curto-circuito duplicaram no País

Em cinco anos, incêndios por curto-circuito duplicaram no País

 

No ano que vem, o incêndio no Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, centro de São Paulo, entrará para as estatísticas da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel).

Todo ano a associação divulga um levantamento com informações sobre mortes e incêndios decorrentes de acidentes elétricos. Em 2017, o anuário apurou 451 incêndios por sobrecarga ou curto-circuito e 30 vítimas fatais, decorrentes desses acidentes.

As causas são atribuídas ao excesso de equipamentos em uma mesma tomada, às gambiarras elétricas, às instalações elétricas antigas e à falta de manutenção das instalações. “Os números revelam o quanto precárias ainda são as instalações elétricas nas moradias brasileiras”, afirma o engenheiro eletricista Edson Martinho, diretor-executivo da Abracopel.

Martinho diz que a estatística leva em conta os acidentes divulgados pela imprensa em todo o País. “Nossa apuração se concentra nos eventos divulgados pelos meios de comunicação. Estimamos que o número de incêndios e acidentes com eletricidade seja bem maior do que o que documentamos, porque nem todo evento é noticiado pela mídia”, diz Martinho.

O levantamento contempla os acidentes por cidade e estado. Do total apurado, de 451 acidentes por curto-circuito, as regiões Nordeste e Sudeste registraram 114 casos cada uma. Os estados do Sul somaram 97 acidentes, o Centro-Oeste 70 e o Norte 56. As mortes decorrentes de acidentes gerados por curtos-circuitos, num total de 30, distribuem-se em 11 para a região Sul, cinco para cada uma das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e quatro para o Sudeste.

No ranking das cidades com maior número de incêndios por curto-circuito está Campo Grande. A capital sul matogrossense registrou 28 eventos em 2017, seguida por Manaus (17), Teresina (17), Recife (13) e Curitiba (12). A cidade que mais registrou mortes em decorrência dos incêndios por sobrecarga foi Macapá, com três vítimas fatais.

Quando considerados os acidentes com eletricidade – não apenas os provocados por sobrecarga e curto-circuito – o número de mortes em 2017 chega a 702. “O mais triste é saber que acidentes como o do edifício que desabou em decorrência do incêndio por curto-circuito em São Paulo, a exemplo de tantas outras tragédias anunciadas, quase sempre podem ser evitados com a adequação das instalações elétricas das moradias”, afirma Martinho.

Conscientização para segurança

Ano passado, o Instituto divulgou um raio-x nacional das instalações elétricas. À data, a pesquisa revelou que 71% das residências brasileiras não possuíam projeto elétrico, metade dos quadros elétricos não tinham qualquer identificação de componentes do circuito, a ausência de fio terra foi constatada em cerca de 50 % dos imóveis e apenas 35 % das moradias adotavam o padrão de tomada de três polos, vigente no Brasil.

A pesquisa mostrou ainda que 60% das moradias com mais de 20 anos de construção nunca tinham passado por qualquer tipo de reforma para atualização das instalações elétricas e que T´s, benjamins e extensões eram utilizados amplamente, por 57 % das famílias pesquisadas, mesmo em imóveis com até cinco anos de construção. Durante o levantamento, os moradores das 999 residências pesquisadas disseram que os cômodos que mais precisavam de tomadas eram, respectivamente, quarto (33%), sala (30%), cozinha (22%) e área de serviço (15%); 19% deles já haviam levado pelo menos um choque elétrico e 34% não se sentiam seguros em casa, dadas às condições elétricas da moradia.30

A escalada dos acidentes de origem elétrica

Os acidentes com origem elétrica vêm crescendo desde 2013, quando foi iniciada a pesquisa, tendo passado dos 1038 eventos para 1319 em 2016 e 1387 em 2017. Ano passado, o número de mortes por choque elétrico foi de 627, o que representou cerca de 5% mais que em 2016, com 599 vítimas fatais.

“Infelizmente, apesar dos esforços incessantes da Abracopel e do Procobre para conscientização das autoridades e da população sobre os riscos elétricos dos imóveis, as pesquisas revelam existir uma grande defasagem das instalações elétricas das moradias em relação ao que poderia ser considerado minimamente seguro”, afirma Martinho.

 

Matéria originalmente publicada em Revista Incêndio