Você já foi síndico?

Por Mário Corso, psicanalista e escritor, colunista da Zero Hora* Por Mário Corso, psicanalista e escritor, colunista da Zero Hora*

Numa conversa, por acaso, os interlocutores se dão conta de que ambos já foram síndicos.

Depois disso, tudo muda, uma confiança mútua invade a cena e dissolve a tensão. Agora, eles sabem que sua discussão vai ter o respaldo do bom senso, partilham uma experiência comum que os transformou. A provação passou e estão num padrão mais profundo de compreensão do funcionamento da sociedade humana.

Pertencem a uma irmandade que comunga a cura de muitas ilusões. Eles foram síndicos e sobreviveram. Por momentos, o foco da discussão se perde, contam seus casos passados, experiências entre o bizarro e o anedótico. A fala fica um tanto catártica, afinal, similares às neuroses de guerra, existem as neuroses de síndico. Estão compartilhando experiências difíceis e, não menos importante, vendo se o parceiro está falando a verdade. Sim, existem os falsos ex-síndicos, pessoas que não viveram o martírio e querem se fazer passar por sábios. Querem a carteirinha da nossa legião sem ter feito esse serviço militar. Mas é só deixar falar, quem nunca passou pelo front logo se denuncia. É impossível enganar um síndico veterano.

Eu sei porque já fui síndico, várias vezes, sempre a contragosto, e tenho meu cartão de sócio. Frequentei as reuniões do grupo de apoio para quando estamos prestes a surtar, por isso colaboro com a caixa de pensão para os que enlouqueceram em serviço. Sei dos símbolos herméticos da nossa fraternidade, recebo os boletins, os bônus de descontos em ferragens, ganhei o software que calcula exatamente os sobrepreços dos orçamentos, o programa que prevê o dia certo da reunião de acordo com os biorritmos e TPMs dos moradores, mas não conto nossos segredos nem empresto nosso arsenal. Quer saber? Quer ter? Vai ser síndico e espera o convite de um grão-mestre.

Só um síndico percebe que um xixi de cachorro no corredor envolve uma semiologia ecológico-política e sua resolução requer a intervenção firme de quem poderia ser mediador da ONU. Dizem que a política é a arte do possível, sim, mas, no caso do síndico, com todos contra. Não existe piedade nem compaixão pelo síndico. Todos são solidários até que estoura um cano, cai um disjuntor, emperra o portão. Subitamente a retaguarda some. Ser síndico é uma aula de solidão.

Ser síndico é a experiência administrativa mínima, mas permite ganhos máximos em aprendizado político, gerencial e financeiro. Por isso, e um tanto mais, somos céticos quando alguém chega com ideias sociais ingênuas, professa a suposta bondade humana, ou acreditar na naturalidade da convergência sobre resultados quando existe ganho comum. Naquele momento, você sente estar na frente de alguém que nunca botou a mão na graxa das experiências sociais. Então, eu pergunto:

– Você já foi síndico?

*Matéria republicada com autorização do Grupo RBS.

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